O site Buala publicou um trechinho do novo romance do escritor angolano José Eduardo Agualusa, Teroria Geral do Esquecimento. Nascido no Huambo, no interior de Angola, Agualusa é atualmente um dos escritores de língua portuguesa mais conhecidos do mundo.
Seu novo livro se passa em Luanda, capital angolana, em 1975, véspera da independência. Uma mulher portuguesa, aterrorizada com a evolução dos acontecimentos, ergue uma parede separando o seu apartamento do restante edifício - do resto do mundo. Durante quase trinta anos sobreviverá a custo, como uma náufraga numa ilha deserta, vendo, em redor, Luanda crescer, exultar, sofrer. Teoria Geral do Esquecimento é um romance sobre o medo do outro, o absurdo do racismo e da xenofobia, sobre o amor e a redenção.
Reproduzimos, aqui, um trechinho do livro. Para ler um pouco mais é só acessar o post do Buala.
Entre 1997 e 1998 desapareceram nos céus de Angola cinco aviões, com um total de 23 tripulantes, originários da Bielorrússia, Rússia, Moldávia e Ucrânia. A 25 de Maio de 2003, um Boeing 727, propriedade da American Airlines, desencaminhou-se do aeroporto de Luanda, e nunca mais foi visto. O aparelho estava há 14 meses sem voar.
Daniel Benchimol colecciona histórias de desaparecimentos em Angola. Todo o tipo de desaparecimentos, embora prefira os aéreos. É sempre mais interessante ser arrebatado pelos céus, como Jesus Cristo ou a sua mãe, do que engolido pela terra. Isto, claro, se não nos estivermos a servir de uma linguagem metafórica. Pessoas ou objectos literalmente engolidos pela terra, como parece ter acontecido com o escritor francês Simon-Pierre Mulamba, são, contudo, casos muitos raros.
O jornalista classifica os desaparecimentos recorrendo a uma escala de zero a dez. Os cinco aviões desaparecidos nos céus de Angola, por exemplo, foram classificados por Benchimol como desaparecimentos de grau oito. O Boeing 727, como desaparecimento de grau nove; Simon-Pierre Mulamba também.
Mulamba desembarcou em Luanda a vinte de Abril de 2003, a convite da Alliance Française, para uma conferência sobre a vida e a obra de Léopold Sédar Senghor. Alto, distinto, sempre com um belíssimo chapéu de feltro, que usava levemente descaído para o lado direito, numa estudada indiferença. Simon-Pierre gostou de Luanda. Aquela era a primeira vez que visitava África. O pai, professor de danças latinas, natural de Ponta Negra, falara-lhe do calor, da humidade, da ameaça das mulheres, mas não o preparara para aquele excesso de vida, o carrossel de emoções, o embriagante tropel de sons e de cheiros. Na segunda noite, logo após a palestra, o escritor aceitou o convite de uma jovem estudante de arquitectura, Elisabela Montez para tomar um copo num dos mais elegantes bares da Ilha. A terceira noite atravessou-a a dançar mornas e coladeras num quintal de cabo-verdianos, na Chicala, acompanhado por duas amigas de Elizabela. Na quarta noite desapareceu. O adido cultural francês, que combinara almoçar com ele, foi procura-lo ao lodge onde o haviam hospedado, um lugar muito bonito, perto da Barra do Quanza. Ninguém o vira. O telemóvel não respondia. No quarto, a cama permanecia por abrir, os lençóis esticados, um chocolate pousado na almofada.”